quarta-feira, novembro 27, 2024

São estranhos os dias em que não acontece nada

São estranhos os dias em que não acontece nada. Claro que as folhas das árvores continuam sacudindo forte com a ventania, e as pessoas mascaradas continuam caminhando com pressa pelas ruas, e as chaleiras continuam chiando com a água fervente pro café. De resto, só espera. O curioso é que não se sabe sequer o que esperar, o que deixa o dia ainda mais esquisito – dá pra esperar por tanta coisa. As plantas crescerem e darem frutos, um telefonema com potencial de alterar tudo, uma encomenda que vem pelo correio, uma declaração de amor, a cura pro que nos aflige e nos mata. Às vezes, a espera e o sonho se confundem, e não sabemos mais se é uma espera ou um desejo. Esperar é cansativo, sonhar é necessário.

Nos dias estranhos em que não acontece nada, eu continuo preparando uma térmica de chá, que aplaca a angústia da espera, e continuo lendo um livro, que estimula tão ricamente os sonhos. Descasco laranjas do sítio e observo as gotículas de óleo borrifando e perfumando o ar. Relembro dias bons de calmaria interior, e tento trazer eles pra perto de mim. São estranhos os dias em que não acontece nada. Mas acontecer nada, afinal, já é alguma coisa: ainda estou aqui.

São estranhos os dias em que não acontece nada

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