São estranhos os dias em que não acontece nada. Claro que as folhas das árvores continuam sacudindo forte com a ventania, e as pessoas mascaradas continuam caminhando com pressa pelas ruas, e as chaleiras continuam chiando com a água fervente pro café. De resto, só espera. O curioso é que não se sabe sequer o que esperar, o que deixa o dia ainda mais esquisito – dá pra esperar por tanta coisa. As plantas crescerem e darem frutos, um telefonema com potencial de alterar tudo, uma encomenda que vem pelo correio, uma declaração de amor, a cura pro que nos aflige e nos mata. Às vezes, a espera e o sonho se confundem, e não sabemos mais se é uma espera ou um desejo. Esperar é cansativo, sonhar é necessário.
Nos dias estranhos em que não acontece nada, eu continuo preparando uma térmica de chá, que aplaca a angústia da espera, e continuo lendo um livro, que estimula tão ricamente os sonhos. Descasco laranjas do sítio e observo as gotículas de óleo borrifando e perfumando o ar. Relembro dias bons de calmaria interior, e tento trazer eles pra perto de mim. São estranhos os dias em que não acontece nada. Mas acontecer nada, afinal, já é alguma coisa: ainda estou aqui.